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domingo, 29 de março de 2009

o que falta à verdade para ser dita

desdobramentos fugidios de um pequeno território livre:

nunca descobri o que eram as tais “conversas de adulto”,

até porque nunca conheci realmente um “adulto”,

as pessoas que conheço, com o passar do tempo, e quando têm sorte, apenas

envelhecem, como as frutas que, ao invés de amadurecer, apodrecem diretamente;

muito poucas pessoas se tornam melhores do que a criança que foram,

a maioria acaba prisioneira de algumas, ou de muitas, das manias que inventou,

deve ser por isso que nunca encontrei pessoalmente um “sábio”,

embora conheça gente que é especialista nas mais variadas coisas;

na melhor das hipóteses, chega-se a conhecer muito sobre um pedaço do mundo,

mas desconheço quem saiba viver; aliás, a vida é um daqueles temas em que todos

falam no escuro, parece que quanto mais importante um assunto é, mais se fala dele

e menos se sabe também ― mas é MUITO deselegante mencionar este fato

em conversas sociais; o pouco que aprendi sobre “ser adulto”, diz respeito a fingir

que se sabe o que se está fazendo, ou dizendo, e para onde se está indo, curiosamente,

o fato de ninguém saber nada beneficia mais os conservadores e hipócritas do que

aguça a necessidade de mudar
; quando guri, no caminho da escola volta e meia cruzava

com a louca do bairro, a Lurdinha da Fausta, dizia os meses de floração de cada

planta, nomeava as espécies de cambaxirra, os montes, os córregos, cão, gente ou gato,

como sabia, se não trabalhava como os adultos e não ia à escola como as crianças?

“eu pergunto”, respondeu-me

domingo, 22 de março de 2009

OS 3 UMBIGOS DO SONHO

Um sujeito nunca é dizível por inteiro. Ou porque é atravessado por um enredo, uma cacofonia de vozes, imagens, falas que o constituem (o Outro), ou porque a própria ideia de sujeito tenha sido tramada previamente na interdiscursividade, enovelando o sujeito do inconsciente com o sujeito da comunidade ― vozes, palavras e figuras dos outros. Na fronteira dos múltiplos ‘eus’ internos com esses pequenos outros (‘eus’ heteronômicos), urde-se um descentramento radical: o que sou não é dado por uma essência, uma substância, nem por uma ideologia própria ou alheia; trata-se menos das vertentes da identidade, psicológica ou grupal, e mais das condições fundantes do ser ― sou a partir do que me é alheio, do indeciso ente que me sonha, daquilo que, para mim como para os outros, dorme no mistério. Espécie de tecido germinativo que dá origem ao psiquismo e cujo cordão umbilical alimenta nossa vida imaginária,

Uma obra de arte, como um sonho, nunca pode ser interpretada por inteiro. Ali onde uma representação se forma, ela nos escapa em parte. No sonho trançam as fibras do que se apresenta e do que se representa, retorta onde o inconsciente se entranha no corpo, o sonho funciona como sistema de trocas entre a noite e o dia, a biologia e a cultura, atividade e repouso, apropriação e sujeição, a vida e a morte, o sono e a vigília. O espaço onírico oscila entre estados do Eu e do não-Eu, à maneira de uma série de matriochkas que se incluíssem e excluíssem reciprocamente, como se a subjetividade, expandindo-se ao infinito, pudesse colapsar o fora da sua (oni) presença, permitindo ao objeto existir na interioridade e na distância, ao espaço conter seu negativo e ao tempo um fechamento sobre si. Na obscuridade do sonho nascem os híbridos sensação-pensamento, organismos feitos de memória-percepção-signo cujo umbigo (boca, olho, vagina, ânus) ameaça tudo devorar.

O sonho é elaborado dentro, mas tem de se fechar fora, ele só conserva sua substância com o fora. O corpo do deus Osíris flutua despedaçado sobre o Nilo, Ísis e Néftis sopram vida aos 42 pedaços, menos um, o pênis, comido por um peixe: a morte como castração final da vida, mas também como sua condição. Na dimensão mítica, só ao preço de se tornar virtual é que o falo poderá sustentar a potência fecundante, nela, o externo é convocado a completar o interno, a série se completa pela ausência, etc., etc.. Sabemos quando estamos acordados, o que nunca temos certeza é se estamos sonhando. Até onde se pode saber do sonho?

“Mesmo nos sonhos mais bem interpretados, é freqüente ter de deixar um lugar nas sombras, porque, na interpretação, percebe-se que ali há um emaranhado de pensamentos do sonho que não se deixa desenredar, mas que tampouco dá outra contribuição ao conteúdo do sonho. É o umbigo do sonho, o lugar onde ele repousa no desconhecido. Os pensamentos do sonho a que se tem acesso pela interpretação têm de permanecer, de forma geral, sem qualquer fechamento e partir em todas as direções na embaralhada rede de nosso mundo de pensamentos. De um lugar mais denso dessa rede surge o desejo do sonho como o cogumelo de seu micélio.” (Sigmund Freud).

Já neste primeiro umbigo, psicossomático, somos confrontados pelo impensável universal, material submetido ao recalque primordial, inacessível ao pensamento e à linguagem; no umbigo interpsíquico também o sentido deriva de uma formação arcaica nodal irrepresentável, nesta outra matriz onírica o campo é compartilhado, espaço onde circula um pensamento do sonho comum a vários sonhadores. Mas sabemos que os sonhos podem ultrapassar ainda este nível da telepatia grupal, do sonho coletivo: num terceiro bulbo do sonho se articulam o rito, o mito e a profecia. Os indígenas da América inventaram diversos filtros de sonhos, para deixar passar os sonhos e barrar os pesadelos, manter os mortos longe dos vivos que dormem e afastar os espíritos nocivos dos lugares de purificação e cura; p.ex., os xamãs dos Algonquinos (Canadá) instalam teias de couro amarradas em ramos curvos, com penas colocadas a intervalos regulares em torno de nós ou contas. Dos umbigos do sonho emergem os meta-níveis: como o mito que vem interpretar o sonho, mito que é o signo de uma outra língua, um signo de signo. Os índios já sabiam que são esses nós mais densos que revelam os sentidos ocultos da vida humana; para eles, os sonhos também são filtros de mitos.


sexta-feira, 20 de março de 2009

quinta-feira, 19 de março de 2009

SÓ PRÁ APARECER...

GENTE ACHO QUE PELA PRIMEIRA VEZ CONSEGUI ACESSAR O GRUPO DE CASA, VCS NÃO IMAGINAM MINHA FELICIDADE.
PRÁ NÃO FICAR SÓ NISTO VOU DEIXAR UMA ...
A VIDA É A ARTE DO ENCONTRO, EMBORA HAJA TANTO DESENCONTRO NA VIDA...
BEIJINHO A TODOS

SÓ PRÁ ME MOSTRAR...

sábado, 14 de março de 2009

ilustração de Bruno Urbanavicius

No meio de uma entrevista a um repórter francês, na maior cara lavada, John Kenneth Galbraith saiu-se com esta: “no atual estágio da tecnoestrutura capitalista, uma empresa como a GM não precisa buscar primordialmente a maximização dos seus lucros”. Passados 39 anos e com a tsunami econômico-financeira devastando o planeta, incluindo a própria General Motors, as palavras do conselheiro de John Kennedy e professor de Harvard não soam irônicas e/ou proféticas ― são (e eram) mentira pura. Aquele tipo de bravata arrogante de quem deitou banca demais, falação demais, para um monte de baba-ovos acríticos. Nos anos 60-70, J.K. Galbraith era “o” cara: dava pitaco sobre moda, economia, política, comportamento e até, se bobeassem, na escalação do meio de campo do Olaria.

Pulando para os 80, um outro guru da economia sacou do colete a “Terceira Onda” da civilização humana; na esteira da Revolução Agrícola e da Revolução Industrial, Alvin Toffler prognosticava a Era da Informação, em que predominariam as empresas de serviços e os profissionais que ele chamava de “operadores simbólicos”. Quem seriam esses obreiros do virtual? Nada de tão novo assim: aquele tipo de gente que não fabrica um prego, não aperta uma arruela etrusca, nem é capaz de compor um pagodinho em hebraico clássico, profissionais cujo trabalho consiste primariamente em operações abstratas realizadas sobre bases de dados simbólicos e que, acrescentemos, se c... um monte para as conseqüências práticas das mandracarias que fazem.

Ao contrário da patranha galbraitiana, a ideia de Toffler faz algum sentido, muito embora uma definição tão ampla acabe por incluir quase qualquer atividade humana, por exemplo, o projetista de uma sonda espacial, o desenvolvedor de Linux, o estilista de uma grife de alta costura, o anotador de jogo do bicho e o menino da pipa que sinaliza a polícia para o traficante, estão manipulando códigos, signos e meta-linguagens com inúmeras camadas de sentidos e vários graus de abstração ― o que os qualifica, portanto, como “operadores simbólicos”. Duas categorias destes profissionais etéreos, no entanto, vêm chamando a atenção hoje em dia, o “povo do mercado” e os “formadores de opinião”. Deles aguardamos as mais deslavadas mistificações.

Os tratados de alquimia diziam que o que está em cima é como o que está em baixo, tal como o que parece à direita, pode estar à esquerda e vice versa. Um presidente da federação dos bancos (concessão pública), que pega dinheiro do governo e empresta a juros 10 vezes maiores e não quer ser chamado de sacana, pode muito bem ser um dirigente esquerdista ao molde soviético. Já um sindicalista que gere um fundo de pensão de uma mega estatal, na verdade é um big player... do mercado! Diante do atual estouro das Bolsas, o povo do mercado vai insistir em potocas como “o estouro de bolhas especulativas faz parte da dinâmica capitalista”, “as bolhas são cíclicas e geram riqueza no processo”, ou ainda, “o capitalismo é melhor que suas alternativas porque sobreviveu a elas” e assim por diante. Já os ideólogos da Bolha podem encampar a tese de que houve no Brasil (e já estaria encerrada) uma tal de “ditabranda” militar.


Ou seja, a quartelada dos milicos brazucas teria sido soft comparada com nossos hermanos (hahahaha). A Bolha (da fama) e a Bolsa (de valores?) estão com problemas de, digamos, densidade ontológica ― todo cuidado é pouco.

sexta-feira, 6 de março de 2009

um lugar entre


foto de Maria do Carmo Valente

São cipriano

Sou um apaixonado pelo diabo
Os sons dele,a bruxaria eos brabalnhos
O melhor livro dos rockeiros,são cipriano
Das trevas,velas de todas as cores
Estrasalhos de uma mordida,de vampiro
Bombo e pedal duplo coração batendo
Coração parado a vela vermelha na testa
E ressusitaremos cocaína e a sede que não acaba
Mais sistres of mercy e seu bastão chibal e bumbo
Tom 1 e tom 2raider moicano no cemitério
Vários espíritos das trevas ,pomba gírias , vois mice

musica e letra de julio cesar souza lima

qem ja foi o que eu ja fui hoje não é mais ninguem
ja fui consolo dos tristes hoje sou triste tambem
hoje sou triste tambem