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sábado, 24 de abril de 2010

uns


nós somos muitos
mas somos
poucos


pouquíssimo por cento
diferimos uns
dos outros


ser diferente é tudo
a diferença
um
[no]
Nada

sábado, 17 de abril de 2010

canto desfeito (em terza rima)


no meio da vasta selva desta vida
seria moça, ou talvez fosse ave
o que vi, de rumo certo já perdida?


falei-lhe à porfia, porém suave
batia as rêmiges, fazia figas
em mil cores irisada cambiava


disse temer as serpes como imigas
(uma se lhe enrolou colo acima)
procuro os altos ramos, cumes, vigas


pois aos voantes a altura anima
no ramerrão terrestre correm na lama,
dobram a cerviz, encolhem a carina


assim belcantou a mais que bela dama
mas não cessaram as fraudes e enganos
da mulher-pássaro, saí-da-montanha


o revés do amor é mal soberano
findou nossa conversa nesse instante
farto de tantas fintas mudei meus planos


o aspecto desfez-se completamente
coxas e patas e mais ventre e peito
nela se uniram como cera quente


bati asas
e voei
contrafeito

segunda-feira, 5 de abril de 2010

encantadora beleza orgânica de matéria viva e corruptível


o amor não é nada
se não for
loucura
uma coisa assim
insensata
proibida uma aventura nos caminhos
do mal

de outra maneira vira piquenique
agradável
rima pobre de canções
amenas
salamargo de vidas
bestas

para me apresentar a você
tive de esquecer
que já lhe conhecia há muitas eras
antes
ainda dos seus olhos
eslavos

lembro que foi na escola
pedi emprestado
um lápis
(já te amava esferograficamente)
daí
estas marcas no meu corpo
não existe nada mais
despudorado
sem qualquer vergonha do absurdo
e do extremo