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sexta-feira, 6 de junho de 2014

como conheci minha irmã (3)



Talvez esteja pensando que eu sou algum tipo de joão-bobo, que vou balangar pra cá e pra lá, chiar, bufar, e terminar me acomodando à nova situação com um sorriso de palhaço plástico. Tá muito enganada, nega, conosco ninguém fodosco. Essa biscate esquece que uma coisa é tretar com um mané qualquer da quebrada, outra é mexer com quem tem subordinados na folha de pagamento, gente às suas ordens. Expressamente pra situações como esta é que mantenho um colega de escola trabalhando pra mim: o Pink, o imbecil do Felício.
            Vidinha lazarenta teve o velho parça de baladas e putedos. Como esperado, tornou-se o loser que já apontava na adolescência, mas, de quebra, a marvada vida ainda lhe reservou um surto esquizofrênico e mais duas internações psiquiátricas. Da turma das antigas, só eu lhe estendi a mão; dou registro em carteira mesmo ele faltando ao serviço vez por outra. Quando passa uns períodos sem tomar as bombas que diminuem as vozes na cabeça, e junto volta a mamar umas canjibrinas, o bicho despiroca e sai pelado nas ruas do bairro gritando que chegou a vez da Sociedade Alternativa.
            Um desocupado na função de faz-tudo nessas horas é uma mão na roda, botei o Felício na cola da Raquel. Alguma explicação devia haver para uma mudança tão repentina de atitude. Loucos e mendigos são ótimos pra ficar pasmando nos lugares, de campana, porque em geral é isso mesmo que fazem o tempo todo ― nada. Ninguém passa recibo.
            Inocente fui eu de não acreditar no relatório dele.
            ― Porra Pink, não faz sentido nenhum esse bagulho que tu tá dizendo, velho. Parou de novo com as pílula controlada?
            ― Seguinte, mano, não somei nem subtraí, quem não gosta de jiló, come pequi.
            ― Caqui o quê, fio, pequi de cu é rola! Quer dizer que a mocoronga...? Não, não pode ser, tu confundiu as bola...
            ― Aí, mano, sou só doze e meio, sou treze não. O que eu vi, eu vi!
            ― Pff, doze e meio! Puta merda, isso que dá ficar batendo palma pra louco dançar.
            ― Todo louco é um, a loucura é o país de um deus solitário.
            ― Bom, de qualquer maneira continua zoiando. Ainda não estou convencido. Você foi até o local e constatou?
            ― Sim, Mongaguá.
            Nem duas semanas se passaram, e Dila convocou uma reunião familiar. Assunto sério. O zum-zum-zum que rolava é que as minhas mães iam se separar. Dezessete anos juntas. Os bate-bocas, as D.Rs. e arranca-rabos já tinham passado, agora era encarar os fatos, e vida que segue. Mamãe estava que era só o pó, as olheiras quase lhe chegavam ao queixo depois dos meses de insônia em que a crise viera se arrastando. Dava uma dó danada vê-la naquele estado, mas o momento era pra falar de business. Nessas horas, não tem pra ninguém, nunca me deixo pegar de calça curta.
           

            

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