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sábado, 14 de junho de 2014

como conheci minha irmã (4)




            Nem duas semanas se passaram, e Dila convocou uma reunião familiar. Assunto sério. O zum-zum-zum que rolava é que as minhas mães iam se separar. Dezessete anos juntas. Os bate-bocas, as DRs e arranca-rabos já tinham passado, agora era encarar os fatos, e vida que segue. Mamãe estava que era só o pó, as olheiras quase lhe chegavam ao queixo depois dos meses de insônia curtidos na crise terminal. Dava uma dó danada vê-la naquele estado, mas o momento era pra falar de business. Nessas horas, não tem pra ninguém, nunca me deixo pegar de calça curta.
            ― Resolvemos chamar pra esta reunião vocês, filhos, pra dizer que... ― mamãe não segurou mais e abriu o chafariz. Passei o braço sobre os ombros dela.
            ― Tem nada não, mãe, eu já tinha me ligado. Você vai ficar bem, não faz assim... a família continua, nós tamo junto. Fala aí, Raquel, o que acha, você já sabia que elas...?
            Fez que sim com a cabeça.
            ― Acho que já podemos abrir este assunto, mesmo com o sofrimento que ainda causa, porque a decisão mais dura já foi tomada ― neste ponto, Dila foi interrompida por um longo soluço de mamãe. Sentada à direita dela, confortava-a com afagos furtivos no braço e emprestando-lhe o lenço.
            ― Você já tem onde ficar? ― decidi espicaçar logo de uma vez o carcará, quanto mais rápido decidíssemos a parada, melhor pra minha mãe. Técnica do esparadrapo: arranca numa puxada só.
            ― Precisa dar um tapa na casa da praia, coisa de um mês, dois no máximo. Minha aposentadoria já saiu, aí é só mudar ― Dila fazia o número da diplomata, cozinhava o galo em banho-maria.
            ― Ah, isso vocês já decidiram as duas? Estão só nos comunicando? ― meu olhar ia da minha mãe pra Dila, e de volta. Do outro lado da roda de assentos que se formou na sala, a minha irmã.
            ― Filho, eu e a Edilamar achamos que é melhor desse jeito, fica bom pra todo mundo.
            ― Pois pra mim não tá nada bom desse jeito! A casa de Mongaguá é tão sua quanto esta aqui, mãe, vai dar de mão beijada pra quem tá indo embora?
            ― Ei, ei, calma aí rapaz, você esquece quem manteve esta casa e tudo que a sua mãe tem nestes anos todos? Só porque agora você é o tal dos negócios, não pode apagar o passado meu filho.
            ― Minha mãe é esta daqui! Você deu a bota nela, saiu fora, não foi? Então, cada um cada qual, você segue a sua vida, nós seguimos a nossa, mas não vem querendo levar o que não é seu Dila ― voltei-me pro lado da minha irmã, estava lá sentadinha, quieta, muito direita na cadeira como se isso fosse a coisa mais importante do mundo ― Não vai abrir o bico, hem, ô mosca-morta?!
            Remexeu-se um pouco, passeou o olhar ausente em volta. Por um segundo deu a impressão de que ia dizer alguma coisa. Mas não.
            ― Pra você, tudo é muito simples, se é pra defender seus interesses, você vai pra cima de quem for. A lei me dá direitos pelos anos que estamos juntas, e moralmente sua mãe reconhece, pus pão e leite nesta casa sozinha muitos anos... ― Dila começava a abaixar a máscara. Prefiro.
            

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