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domingo, 4 de setembro de 2016

o intruso (3)




            ― Desculpa moço, foi mal entrar assim aqui sem avisar, mas é que... bom, é uma emergência, eu estava lá em casa e um cara veio com um papo esquisito de uma entrega, e aí ele começou a forçar a porta...
― Oxe, quase me mata de susto! Pensei logo que era assalto, agora se acalme e conte tudo direitinho, não tô entendendo é nada.
― Tá bom, tá bom, vamos começar tudo de novo: eu estava em casa estudando uns pontos de lógica formal... quer dizer, isso não vem ao caso, o que sim é importante é que a campainha tocou e ninguém foi abrir, então tive que ir mesmo estando ocupado como me encontrava naquele momento, veja, é estranho alguém subir direto sem antes a portaria avisar, não é?
― Claro que é.
― Então?...
― Então o quê?
― Me diga você que estava aqui, como é que alguém sobe pra entregar um pacote pelo elevador social a esta hora? Ainda mais sem interfonar antes...
― Vamos lá, senhor, são duas coisas bem diferentes: uma é norma de segurança, ninguém sobe sem ser anunciado, a outra coisa é, eu não tenho como saber.
― Como assim?! Você está aí pra isso, alguém chega e diz que vai entregar algo no apartamento X, daí você liga pro número correspondente nesse comunicador bem na sua frente, e tchan-tchan-tchan: o morador do número X atende, desce, assina os papéis e o entregador vai embora. Não precisa nem entrar no prédio, certo?
― Certo.
― Bom, então me diga... como é mesmo o seu nome?
― Waldomiro Peixoto, mas só me chamam de Peixoto.
― Então, Peixoto, quem era esse cara, o que ele vinha entregar, pra quem era a encomenda?
― Já lhe disse: não tenho como saber.
― Parece que estamos tendo um sério problema de comunicação aqui. Me explique como é que aquele homem se materializou na porta da minha casa sem antes ter passado por você.
― E como vou saber? Acabei de pegar o serviço agora. Esse camarada deve ter subido antes de eu chegar, o rapaz que tava aqui saiu inda agorinha...
― Minha nossa, que cagada. Desculpe o palavrão, mas é que o assunto é sério, esse cara deve ter jogado uma conversa no seu colega e subiu, ou, sei lá, alguém na minha casa atendeu o interfone e deixou ele subir inadvertidamente, então vocês trocaram o turno e, nessas, enquanto você assumia aqui, o malandro já estava lá apertando a campainha de casa cheio de más intenções.
― Se acalme, homem, como tem tanta certeza de que o tal entregador tinha más intenções?
― Primeiro pela atitude, o cara tinha pouca educação e muita pressa que eu lhe abrisse a porta, além do mais, quando disse pra ele descer e deixar o pacote na portaria, ficou mudo e começou a girar a maçaneta e a empurrar a porta.
― Essa realmente é uma atitude suspeita.
― Sem querer lhe dizer como é que se faz o seu serviço, mas já dizendo, não acha deveríamos estar ligando pra polícia e prevenindo os outros moradores neste momento?
― Verdade seja dita, o senhor tem razão, mas ainda temos um último probleminha.
― E qual seria este último problema que nos impede de agir imediatamente, Peixoto?
― Qual apartamento o senhor disse que mora mesmo?
― Acho que não disse, esqueci, sou do 143, bloco A.
― Pois é aí que mora a encrenca: o senhor não é do 143, bloco A, o senhor não é morador daqui..


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