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domingo, 27 de fevereiro de 2011

anti-ode a Mario Benedetti

Não rias
ainda estás a tempo
de afastar e desistir de novo
rejeitar tuas sombras
desenterrar teus medos
acumular mais lastro
arregar do vôo.


Não rias
que a vida é isso
o medo da viagem
a fuga do sonho
desperdiçar o tempo
correr pelos escombros
e travar o jogo.


Não rias
enquanto cedes
ainda que o frio
queime
o medo morda
ainda
que o sol se esconda
e se cale o vento
já não há fogo
na tua alma falta vida
em teus sonhos.


Porque nem a vida é tua
nem teu o desejo
porque não quiseste
e agora também não quero
porque são o vinho e o amor
incertos
porque há feridas que não cura
o tempo.


Fechaste as portas
trancaste ferrolhos
protegido por muralhas
não vives a vida
recusas o repto.


Recuperar o riso?
Ensaiar um canto?
Baixar a guarda?
Estender as mãos?
Abrir as asas?
E tentar de novo
celebrar a vida retomando
a praça?


Não te rias
por favor foi só um momento
achei que podias não
ter cedido
ao frio que queima
ao medo que morde
ao sol que se põe
ao vento que se cala.


Não rias só porque
pensei haver fogo em tua alma
e vida em teus sonhos
porque cada dia recomeça
porque não há melhor hora
do que este momento
porque estás só
e ninguém te quer
ouvir.

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