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sábado, 17 de julho de 2010

Anomia agonizante

Que a nossa vida não vale nada não é novidade, desde sempre "sabemos" disso. O problema é que a "nossa" morte essa sim continua "valendo" alguma coisa. Por exemplo, um indivíduo que não tem dinheiro está privado inclusive da morte.Imagine alguém que tenha uma doença qualquer e chega no hospital nas ultimas horas de vida.O médico pergunta à ele se tem plano de saúde.O homem miserável não tem plano de saúde, e o S.U.S não pode atendê-lo pois não tem condições.Temos aí um sujeito sem direito a morrer em paz, esse tipo de sujeito é descrito por Giorgio Agamben em seu livro Homo Sacer: Poder soberano e vida nua.Essa figura no direito romano adquire estatuto sagrado, pois pode ser morto por qualquer um a qualquer hora, exceto nos rituais religiosos. Essa aproximação que estou fazendo entre o sujeito excluído de todos os direitos, inclusive o de morrer, com o Homo Sacer é uma tentativa de mostrar como a lógica da exceção opera nos dias de hoje.Enquanto 20% do trabalho produtivo serve para sustentar 80% da produção social, temos 20% que são excluídos da própria exclusão, pois não encontrar emprego já é fato para 80% da população excluída pela própria dinâmica do capital que em si mesmo tenta eliminar o trabalho vivo, pois a própria automação da manufatura tenta enxugar postos de trabalho. Só que o excedente de trabalhadores deslocados das fábricas se deslocam para outro lugar, já que a fábrica não os comporta, assim vão em busca de outros lugares em que possam ser explorados, mas e se não houver esse outro lugar.Hoje um imigrante sai de "seu" país para simplesmente ser explorado em outro lugar, pois aí temos o efeito da alienação em seu estado mais puro onde servidão e escravatura são dois pólos da mesma moeda, de uma dialética imobilizada pela própria anomia contemporânea, que como já foi dito é agonizante.Aliás dialética essa que anda meio esquecida ultimamente pois é melhor esquecer aquilo que não conseguimos nomear.Longe de trazer o desespero de uma esquerda por vir é a incapacidade de saber que nos amedronta mais pois não sabemos o que não sabemos na fórmula já desgastada de Donald Rumsfeld que sem querer querendo usou seu inconsciente para designar o nome de seu maior inimigo, um inimigo sem rosto e nome como o Homo Sacer de Giorgio Agamben, Hannah Arendt e Slavoj Zizek.Sem mais torturar o meu leitor digo que não sei o que estou escrevendo pois preciso de um tratamento cognitivo, pois da psicanálise não preciso mais.

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